Frase

"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cegueira e maternidade - o que muda?

Já é a quarta pessoa que sugere que escreva sobre cegueira e
maternidade, aqui no blog. Normalmente perguntam sobre adaptações,
situações específicas...
Eu hesitei bastante, porque já esgotei muito o assunto quando
escrevia o finado Carmencita Veras
www.carmencitaveras.ohlog.com
mas, vamos lá.

Também pela cegueira mas não só por ela, fazemos muita coisa juntos,
Vi e eu. Isso não mudou muito com a chegada da Mariles. Muitas vezes
alternamos, ou ficamos os quatro juntos, com cada um mais focado em uma
das crianças. Não sei, isso tudo flui naturalmente. Não é nada sobre o
qual precisemos sentar e traçar estratégias de ação, ou alguma coisa
parecida.
Nós apenas tentamos e tentamos e tentamos, até encontrar um
resultado aceitável.
Foi assim com o da comida: mil adaptações até encontrar a fórmula do
sucesso, ao menos, do nosso sucesso.
Agora, durante os finais de semana, agradecemos quando Mariles dorme
perto da hora do almoço. Então alimentamos o Estêvão e nos alimentamos,
mais ou menos ao mesmo tempo. Então Mariles acorda c começa o
"diferente":
- Kevo, aonde você quer ficar trancado agora?
Ele pode escolher entre a sala de televisão e a sala do computador;
pode levar o que quiser para o "exílio", e sempre vai de boa vontade.
Foi o único jeito que encontramos de ele não a distrair o tempo
todo, durante a refeição. Era inviável. Ela ficava sempre olhando para
ele, e entre caras e bocas e saramaleques, acabava ficando sem comer.
Então, Kevo vai ao seu "exílio temporário" e nós colocamos Mariles
na cadeirinha. Eu e envolvo com aqueles fraldões e o Vi fica entre a
cadeira e a parede, vigiando as mãozinhas dela. Eu preparo a comida e
ofereço, colocando a colher em uma das mãos, a outra apoiando a parte
côncava com alguns dedos para fora (meus) para encontrar a boquinha
dela.
Era assim desde o Estêvão, com o diferencial de que ninguém
precisava ser exilado para o processo.
Mas essa é a única tarefa que, tendo para quem eu delegar, faço-o
com gratidão.


****


Diz que disseram para o Kevo, na escola, que seus pais não
enxergavam. Ele então atalhou de imediato: Não tem problema! Eu enxergo,
a Maliles enxerga...

***

Quase um ano atrás, foi tempo de concretizar os fatos:
- Mamãe, a senhora não enxerga?
- Não.
- O papai não enxerga?
- Não.
- Mas eu enxergo!
- Enxerga.
- A Mariles vai enxergar?
- Muito, muito provavelmente, sim.

***

Teve até quem sugerisse que nós colocássemos sensores nos cômodos,
para que uma luz se acendesse quando o EstÊvão entrasse, graças a
nossa quase patológica mania de não acender a luz de noite -
especialmente eu.,
Bobagem. Nunca fizemos nada nesse sentido, e o Kevo sempre pedia par
acender a luz e, desde que foi capaz, é expert em acender a luz ao
entrar e em apagar, ao sair. Tudo naturalmente.


****

Eu não acho das coisas mais difíceis que fiz, embora seja, sem
dúvida, a mais gratificante; uma vez ouvi em um
filme que ser mãe era como amarrar os sapatos, e foi assim comigo
também. As coisas simplesmente fluem. Basta estar-se aberto, ter
disposição para pagar para ver e para enfrentar os problemas de frente.
Não acho minha vida mais complicada que a da maior parte das
pessoas; igualmente não me acho nada superior a qualquer outro por
fazer o que faço. Eu simplesmente tenho a vida que quis com as
ferramentas que estavam ao meu alcance. As facilidades que me faltam em
alguns campos, a outros faltam em demais quesitos, e mesmo que assim não
fosse, cada experiência humana é única.
A minha vida, como a de qualquer pessoa no mundo, é repleta de
esforço, aposta, frustrações, vitória e superação. Só isso.

1 Comentários:

DaniSapoo 1 de janeiro de 2011 às 22:52  

Jo...
Eh bem isso que voce escreveu. A gente tem as limitacoes que nos permitimos.
Sonhei contigo a noite passada, acredita??? Beijao e feliz 2011!!!

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