Sobre seu quase um ano

Às vezes eu te olho e me sinto pequena, enquanto você se agiganta
aos meus olhos.
Um bebê, um dos seres mais frágeis e dependentes, que entretanto sente,
expressa-se, recomeça das próprias dificuldades, não elenca tentativas
para aventar incapacidade de realização. Que nasce mal conseguindo
soster a própria cabeça, e que, no prazo de um ano, entretanto,
mantem-se sobre os próprios pés, confiando em dedos, superfícies e
rejuntes para aprender a andar. Que canta e dança, muitas vezes, ao som
de música que só ele pode ouvir, e assim descobre alegria no sol, no
abraço, no mundo, na vida.
Um ano de Mariles, quando às vezes parecia que você era um sonho que
eu inventara. Uma criação literária, emocional, só minha, que depois se
fez semente no meu ventre, e depois ondulações crescentes que todos
viam, e depois choro estridente pela casa, mãozinhas apertando o mundo,
beijinhos, sentar sem apoio, engatinhar devagar, bater a cabeça no chão
um senfim de vezes para depois sair, lépida e fagueira pela casa, com
seus barulhinhos de alegria, ao antessipar a próxima arte.
Um ano de Mariles. Um ano de luta. De tentativas e vitórias. De
prato vazio, de noite sem dormir, de leite sem sair, e olha ele já
saindo denovo!... De tua mão na minha, todos seus cinco dedos aferrados
a um último meu, e lá vai meu bebê se apoiando na minha mão para virar
menininha, do mesmo jeito que se apoiou no meu ventre para passar de
feto a nenem. Um ano de Mariles Estela, dos céus à Terra, para fazer
morada em nós, para fazer rir e desafiar, para mamar tanto, e plantar
tantas raízes, e abrir tantas portas no mundo interior e exterior.

Por tudo isso e por muito mais, obrigada!