parto - processo
Eu penso na opção por um processo de parto diferenciado como o
humanizado em apenas um passo, um elo para uma escolha de vida mais consciente, mais
alternativa, mais centrada nos sentimentos e na vivência mais plena e
aprofundada das
experiências.
É uma cadeia. O parto
humanizado normalmente conduz a uma postura mais responsável sobre a
amamentação, a saúde dos pequenos, os entretenimentos a que terão acesso
por nossas mãos, à observância mais criteriosa da escola em que os
colocaremos e pode até mesmo culminar em uma preocupação mais ativa com
os valores de vida que vamos lhes passar.
Um caminho de parto, assim, não é um passo isolado, mas um elo, um
processo, um degrau alternativo que, muitas das vezes,
desembocará em outros e outros caminhos alternativos. Trilhar esses
caminhos a sério significa, sim, ouvir; e muito! Significa arcar com
riscos, e não são riscos quaisquer. Dos riscos que a gente encara, o
menor é a desaprovação alheia. E é muito estranho talvez eu dizer isso,
mas, para trilhar esse caminho, é preciso acostumar-se à desaprovação,
aos olhares enviezados, à falta de aceitação dos outros.
Eu estou em vias de tentar um pd. Se eu conseguir, serei
"aquela inconseqüente que não pensa nos riscos e vive inventando moda";
se eu não conseguir, serei "aquela arrogante que inventa moda". Simples
assim. Só que chega um ponto em que temos que simplesmente
continuar. Não tem volta. O medo da "fogueira" não impede a gente de
pular nas chamas, porque as chamas estão dentro da gente já. Nós já
estamos queimando. Os dedos apontados podem nos fazer sofrer ou sentir
decepção, mas não é mais pela direção deles que nós vamos.
Eu gosto de pensar na vida como uma vela que se estingue. Digam o
que disserem sobre a vida após a morte, essa vida física não passa de
uma vela que arde, do momento do nascimento até o suspiro final. Nós
queimamos. Dia após dia, tornamo-nos mais velhos, mais perto do fim (ou
da pausa), mas, de qualquer forma, o tempo não volta.
Então, se é para queimar, se é para arder, que ardamos por aquilo que
grita o nosso coração; que ardamos por aquilo que para nós vale a pena;
que vivamos por algo que nos provoque, que nos estimule, que faça a
nossa vida ter sentido, mesmo quando doer, mesmo quando não tivermos
mais forças para ficar de pé... E a maternidade vale isso. E a escolha
de um processo de parto mais humanizado e digno nos prepara para uma
maternidade mais consciente e ativa. Então, sim, os demais não vão nos
apoiar. Vão apontar os dedos; vão ser os primeiros a diminuir nossas
vitórias e pôr olofotes nas nossas falhas. Sempre tem a turma do "você
não pode" / "eu não te disse" / "quem você pensa que é?".... Mas a gente é que
tem que saber aonde está o nosso coração e seguir. Nós que devemos
saber quem somos, aonde queremos chegar e porquê estamos aqui. Se alguém nos
acompanhar, se alguém nos entender, se alguém nos aceitar, lindo,
maravilhoso, perfeito; mas se não tivermos nada disso, simplesmente
temos que continuar, se a chama fluir de dentro para fora. Não há como
escapar da fogueira, se ela arder dessa forma. Fazê-lo por
praticamente qualquer motivo, tem o peso de uma abjuração perante
a própria consciência... E acredito piamente que essa dor doa mais que a
reprovação dos outros.
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