O homem do terno marrom
Esta semana terminei "o homem do terno marrom", um dos clássicos de
Agatha Christie. Como clássico, não vale o nome; como entretenimento, dá
e sobra.
NO aspecto positivo, chamo atenção para o humor magnífico de um dos
personagens. Colo trecho abaixo... Não falo mais, para não correr o
risco de tirar a graça de quem não leu ainda... Mas é válido, sem
dúvida...
" Estou pensando em deixar de lado temporariamente as minhas Reminiscências para escrever um pequeno artigo intitulado
"Meus ex-secretários". Por falar em secretários,
parece que me rogaram praga. Há ocasiões em que não tenho nenhum, noutras tenho-os de sobra.
Estou de viagem para a Rodésia, acompanhado de um bando de mulheres. Race está continuamente ao lado das duas mais bonitas,
e, quanto a mim, sobra-me o restolho.
Isso sempre me aconteceu; afinal de contas, estou no meu vagão reservado, não no de Race.
Anne Beddingfield também vai à Rodésia, como minha secretária. Não obstante, passou a tarde inteira na plataforma do
carro, em companhia de Race, admirando a
beleza do desfiladeiro do rio Hex. A sua principal obrigação é segurar as minhas mãos; no entanto, nem isso faz. Talvez
seja por temor a Miss Pettigrew. Mas não
merece censura por isso. Nada existe menos atraente do que Miss Pettigrew; é simplesmente repulsiva. Os pés enormes mais
parecem de homem que de mulher.
Paira grande mistério ao redor de Anne Beddingfield. Tomou o trem de um salto, no último instante, bufando como máquina
a vapor. Parecia até que estava apostando
corrida. Além disso, Pagett assegurou-me tê-la visto partir para Durban ontem à noite! Ou o rapaz andou bebendo outra vez
ou então a jovem possui o dom da ubiqüidade.
E ela nada explica a respeito. Aliás, ninguém me explica nada.
Ah! "Meus ex-secretários!" O número 1, assassino, fugitivo da justiça; o número 2, um homem que bebe às escondidas, e,
na Itália, imiscui-se em casos amorosos
infamantes. O número 3, ainda jovem, possui a faculdade bastante vantajosa de estar em dois lugares ao mesmo tempo; o número
4, Miss Pettigrew, é certamente um perigosíssimo
escroque disfarçado em secretária! É provavelmente um dos amigos italianos que Pagett teve a ousadia de me impingir. Rayburn
foi o melhor do bando. Nunca me causou
aborrecimentos nem interferiu na minha vida. Guy Pagett teve a impertinência de colocar a mala de material de escritório
no meu compartimento. Por causa dela ninguém
se move sem levar um tropeção.
Há pouco fui à plataforma. Julguei que saudariam minha chegada com exclamações de alegria. Ambas as senhoras ouviam atentas
uma daquelas histórias de Race. Vou
colocar uma tabuleta neste carro; em vez de "Sir Eustace Pedler e amigos", escreverei "Coronel Race e seu harém".
Em seguida, Mrs. Blair começou a tirar fotografias desprovidas de significação; cada vez que o trem fazia uma curva fechada,
ela tirava um instantâneo.
- Estão percebendo a minha intenção? - perguntou encantada. - Tirando a foto do último vagão, no momento em que a máquina
faz a curva e com a montanha ao fundo,
vou obter uma bela visão da profundidade do despenhadeiro.
Fiz-lhe notar a possibilidade de as pessoas não perceberem que a fotografia tinha sido tirada do interior do trem. Ela
fitou-me consternada.
- Escrevo embaixo: "Tirada do interior do trem. Máquina na curva".
- Devia escrever embaixo de todas - afirmei. Por que será que as mulheres nunca pensam nessas coisas tão
simples?"
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