Extática
24 de Fevereiro de 2009
Estática
Ela começa suave, insidiosa... As notas fluem numa harmonia discreta,
sutil, quase pueril demais para existir. Então os sons cascateiam,
serpenteiam, envolvendo-me, seduzindo-me, tão delicado que não posso
resistir. As notas agora fluem ao meu redor. As pontes perfeitas, nos
lugares certos, a harmonia criando, ousando, confundindo, os compassos
atropelando-se de uma forma que, de tão doce, é atordoante... Os olhos
fechados, por favor, faça isso... Possua-me completamente... Os acordes
e a harmonia quase na mesma oitava, fluindo, doces, ternos, suaves, a
cantiga de ninar perfeita, deslizando pelos meus ouvidos, tomando meus
cabelos, as pétalas das notas brincando como cetim em minhas mãos...
Perfeito, perfeito, perfeito... O êxtase me domina... É como se
brevemente pudesse deixar de tocar o chão. Com efeito as notas, cada vez
mais leves, parecem ter evaporado parte do peso de meu próprio corpo.
Então a melodia expira, lenta, delicada e perfeitamente... Na hora
certa, num decrescente que pede por mais, que, de tão perfeito, faz-me
desejar poder voltar, e ouvir e ouvir o final, enquanto o vibrato
perfeito da última cadência se estingüe sem preça, pela madrugada
calada. Tanta perfeição em uma música me faz sentir a que pícaros de
requinte e sutileza, de doçura e fluidez a alma humana pode chegar.
etiquetas: música , pessoal
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