Frase

"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Reflexões a granel

Ontem eu estava muito espiritualizada, ainda mais que o normal.
Para começar, na iminência de fazer uma laparoscopia, fiquei
pensando no meu corpo, quando estava tomando banho. De verdade, de
repente, fiquei muito grata por ter o corpo que tenho - nem bonito
demais, para não atrair atenções indesejáveis ou tentações
desnecessárias ao meu ego, - nem feio demais, para não assustar nem
constranger às outras pessoas.
No geral, ele sempre funcionou muito bem. Todas as suas falhas - a
da vista que não funciona, só para começar - vieram, ou para meu bem, ou
por minha responsabilidade.
Por um quarto de séculos, nós estivemos sempre juntos, meu corpo e
eu. E então, em 2010, teremos nosso "primeiro corte".
Fiquei pensando em como provavelmente eu nasci, lisinha e sem
marcas, como nasceram, agora, meus filhos. E agora, porém, já posso
contar as cicatrizes - três na perna, só para começar.
Agora, então, teremos nossa primeira... Bem, digamos, nossa primeira
perda, por assim dizer. E, sim, ontem eu me despedi da minha vesícula.
Agradeci por ela ter funcionado tão bem, a ponto de eu só lembrar que
ela existia, quando começou a me causar dores. Agradeci seu trabalho,
silencioso, humilde e diário, e a abençoei, do fundo do meu coração: que
a matéria que a compôs possa, brevemente ser reconstituída, e fazer
parte de outra coisa que possa ser útil.
Eu sei que isso pode parecer triviagem para a maior parte das
pessoas. Nós, comumente, fomos treinados a pensar que nós e nosso corpo
somos um, ou, na melhor das hipóteses, pensar que nosso corpo é um meio
de conquistar o que queremos - atenção, aprovação, coisas assim.
Raramente pensamos nele como um veículo, como um instrumento provisório
e perecível para que realizemos algo mais na Terra além de sobreviver e
usufruir de prazer em vários graus.
Lembro de mim no começo de toda essa história de vesícula. Eu sabia
que devia maneirar com as gorduras, mas na época eu estava simplesmente
viciada em comer bolacha de água e sal com margarina. Ficar sem a
bolacha de água e sal com margarina era um verdadeiro suplício gustativo
para mim, pelo que eu sempre furava com a dieta e colocava margarina no
alimento que deveria estar totalmente seco. Depois vinha a dor e eu
pensava: puxa, Jô, por um simples capricho você sobrecarrega sua
vesícula e ainda se impõe uma dor desnecessária!...
Foi gostoso e estranho pensar no meu próprio corpo dessa maneira.
São coisinhas como esta que mudam nosso olhar para a vida, que modificam
nossa maneira de relacionar conosco, com a vida e com os demais.

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