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"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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quarta-feira, 3 de março de 2010

Os caminhos da não-violência

Maternar ficou muito mais desafiante e estimulante quando me decidi
pela não-violência. É um processo que exige mais de mim que dos pequenos
e que, sobretudo, me ajuda a ser, não apenas uma mãe melhor, mas também
melhor esposa e ser humano.
O fato é que, muitas vezes que eu pensei que meu filho era o
problema, uma análise mais detida me mostrou que o "problema" era eu,
posto que eu é quem era a raiz do comportamento que julgava inadequado e
que desejava suprimir.
Como no velho caso em que uma mãe me perguntou o que fazer com sua
pequena de sete meses que estava "aterrorizando" a todos: ela arranhava
e ser chacoalhada não surtia efeito - ela apenas continuava arranhando
mais e mais. Quando a mãe me perguntou o que fazer, eu, como uma boa
observadora externa e sem nenhum arranhã na pele, soltei de uma vez: ué,
corta as unhas dela!
Foi mais ou menos uma dessas que aconteceu aqui, outro dia. Estêvão
estava tecnicamente insuprotável: era um chorão de marca maior. Passava
a maior parte do dia agarrado as minhas pernas, chorando e chorando. E o
pior: ele tinha se tornado um exigente de primeira linha. Nada estava
bom para o pequeno Estêvão, o que fazia com que ele chegasse à fase
descrita em primeiro lugar aqui: chorar desmazeladamente escanchado nas
minhas pernas. Há quem pense que eu sou muito paciente. É mentira. Sou
uma das pessoas mais impacientes que eu conheço. Por isso que, depois de
conversar duas vezes, eu me via gritando com ele frases que me
arrepiavam quando ouvidas de outras mães: "pelo amor de Deus,
desgruda!!!!", "Cala a boca e fica quieto!".
Antes que as frases ficassem ainda pióres, fiz um retrospecto do
que tinha acontecido antes. Como ele estava se comportando antes de
ficar daquele jeito? E como eu reagia quando ele se comportava da forma
anterior?
Acho que encontrei o ponto. Antes, ele me pedia um brinquedo, eu
parava tudo e dava para ele; ele pedia que eu brincasse com ele e
raramente eu podia, ou por estar ocupada com Mariles, ou por estar
passando um pouco de tempo comigo mesma, depois de ter me ocupado de
Mariles. Se ele entretanto ficasse choramingas, eu deixava tudo para lhe
dar atenção. Se ele pedia algo, eu o atendia prontamente; se ele estava
satisfeito, eu recolhia a minha atenção. Resultado? Ele passou
automaticamente a fazer o que fazia com que eu lhe desse atenção: chorar
e me solicitar diretamente. Enfim, como aquela mãe que não cortava as
unhas da filha e reclamava de ela arranhar os outros, eu não estava
dando atenção ao Estêvão e reclamava dos seus recursos para se aproximar
de mim. De boa, o que eu esperava? Que do auto dos seus dois anos e nove
meses ele me dissesse "mamãe, eu sei que a senhora é muito ocupada, mas
eu preciso da sua companhia?"
A estratégia foi simples: passei a procurá-lo, antes que ele
começasse com os comportamentos "inadequados".
- Estêvão, estou pensando em a gente brincar com a sua caixa de
ferramentas, o que você acha?
- Você está brincando de bloquinhos! Eu posso brincar contigo?
- Nossa! E você sabe fazer esse barco sozinho? Me ensina a fazer
também?
Depois de uns dez minutos brincando e conversando, passei a me
retirar para minhas coisas. E não é que funcionou miraculosamente?
Ele parou com aquela mania de "falar chorando", que tanto me
irritava; parou de querer tudo precisamente do seu jeito e voltou a
"brincar sozinho" por longos períodos, dando-me espaço de sobra para,
inclusive, fazer as minhas coisas. Enfim, o segredo era "cortar-lhe as
unhas". Eu, do auto da minha arrogância de adulta e mãe pensava que ele
estava errado, quando o comportamento inadequado era meu!

Outra coisa que estou aprendendo é a fazer brincadeiras envolvendo
aos dois, mas isto é assunto pra outro post.

4 Comentários:

Luciana 4 de março de 2010 às 07:52  

Jo, pra minha sorte e a do meu filho, eu cheguei à EXATA conclusão à alguns meses atrás.

Foi bem numa época que rolou um debate na lista sobre as pais que acham que vão mimar a criança se sempre derem atenção à ela quando ela chora.

Então se a criança está quieta - ótimo! Melhor nem mexer com ela! Se começa a chorar - Lá vem a choradeira de novo. E dai a mae (ou o pai) nao tem paciencia pro choro e manda a criança calar ou não dá atenção por medo de mimar. Imagina a cabecinha dessa criança?

Foi aí que eu pensei porque nao experimentar dar atenção antes que a criança sinta falta dela? *pura lógica* Jo, e é o que eu tenho feito até hoje e como com você, tem funcionado bem demais.

Dai teve um dia desses que eu queria terminar um negocio no computador e acabei ficando mais de 1 hora (sem ter brincado com ele antes). Jo, ele comecou a chorar e a intensidade foi aumentando, aumentando, e eu "espera, Nic, mamae ja ta terminando aqui". De repente ele ja gritava e qdo eu olhei pra ele, ele tomou fôlego e disse la do fundo "Mami!", como se dissesse: eu nao gosto de me sentir assim, por favor, me ajuda! Me da atencao!

Isso me atingiu de forma tao forte, que jamais vou esquecer: ele vem em primeiro lugar, sempre.

Enfim, desculpe o testamento. ótimo seu post!

Abraços!

Jo M. E. Guerra de Carvalho 4 de março de 2010 às 21:28  

Eu acho que o problema é que nos sentimos adultos demais para nos questionar. É bem mais fácil assumir que o ponto está na criança, não na gente. Mas aí, quantas oportunidades perdemos de crescer e de ter mais qualidade na interação com nossos filhos!
Muita gente encara a maternidade como uma lista interminável de sacrifícios e estrece, quando não precisa ser realmente assim. Mas para isso, a gente precisa estar realmente engajado, não necessariamente ficando em casa o tempo todo, mas estando realmente conectados com os pequenos quando estamos com eles...
Aí rolam questionamentos do preestabelecido, como, por exemplo, dar colo e atenção é mimar e mimar ser necessariamente ruim.
Sei lá, dá canmpo pra uns dois posts isso, Lu... Mas pra resumir, eu acho que a gente tem que estar atentos, sobretudo, aos sinaizinhos deles.. Tipo, o tal manual de instruções na verdade existe. Eles sempre nos dizem o que fazer, e é com o coração que a gente lê o que eles dizem...
Instinto e boa-vontade, acho, eee.

Respondendo ao teu outro comentário, fico feliz que vocês vão para o Canadá!!! Como vocês fazem para organizar essa história de casa, mudando de um país para o outro assim? Lá vocÊ continuará sem trabalhar mesmo?

Luciana 10 de março de 2010 às 23:31  

Ei Jo,

Vou te responder aqui mesmo, apesar de nao ter nada a ver com seu post.

A mudança ta sendo bem trabalhosa, pois estamos tendo que vender a maior parte dos nossos moveis e eletrodomesticos e aqui o povo pechincha tanto até o ponto de sentirmos que estamos dando de graça. Algumas coisas a empresa pega o transporte, mas eletrodomesticos têm conecções e voltagem diferentes la.

Meu marido continua trabalhando pela mesma empresa e eles disseram que quando eu quiser voltar a trabalhar tem espaço pra mim. É um alivio, mas a verdade é que não sei se quero mais trabalhar com geologia... cansei do mercado de mineração... Tô pensando em mudar radicalmente meu campo de trabalho, sabe? Me lançar ao novo, explorar bem dentro de mim. Eu amo desenhar, pintar e tudo isso. Acho que vou fazer algo na área, ainda não sei bem o que.

No mais, vou contando sobre a mudança la no blog.

Beijinhos pra voce!

Aprendiz 13 de março de 2010 às 13:30  

Então vou ler la no blog...

geologia
? mineração? é muito louco te imaginar trabalhando com iso. Eu tenho pavor de mudança. Acho que dificilmente seria capaz de mexer com isso denovo... HUmpf!

Beijos com arrepios só de pensar na idéia

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