Relato de aleitamento e desmame de Mariles Estela
Não foi a cesárea que doeu; foi a amamentação porca que dei ao meu
primeiro filho. Dei boas-vindas a todos os pitacos de plantão, sem
conceder o benefício da dúvida a nenhum deles. Antes do primeiro mês,
meu filho já tinha sido obrigado a pegar chupeta, mamar chazinho e
tomar funchicóriaa. Eu acreditava muito no axioma conformista que diz:
"amamentação é assim: quando dá, dá; quando não dá, não dá e a gente se
conforma". Mas quando "não deu", eu não me conformei e busquei
informação. Não foram as propagandas do tipo "é prático e fácil" sobre o
aleitamento materno que me seduziram, mas os benefícios a longo prazo.
Que mãe não ficaria ansiosa para oferecer ao seu filho antibiótico
natural, cheio de seus anticorpos, vacinas sem contra-indicação e
possibilidades de ter mais segurança emocional e habilidades
intelectuais? Acho que foi isso e o instinto que me impulsionaram a
continuar. Então continuamos, até os fatídicos cinco meses. Depois,
graças a orientações recebidas na Bestbaby, retornamos aos nove meses de
Martim Estêvão, extinguindo de vez aos onze meses.
Mas eu não estava em paz. Pensava sempre "e se eu tivesse sabido do
que sei, desde o princípio?"
Eu precisei ter Mariles Estela nos braços para perceber quanto
aquilo era importante para mim, e tudo parecia a nosso favor: sucção
impecável, dores em níveis suportáveis; meu emocional estava ok, eu
estava simplesmente em paz com a idéia de acordar indefinidamente pelo
tempo que fosse necessário, sem forçar, sem exigir, sem ter metas
imaginárias nas quais minha filha devesse se encaixar.
Fomos maravilhosamente até os cinco meses. Até então, minha filha
não conhecia água nem mamadeira, até que, um dia, simplesmente, ela não
quis mais. Era ver o seio e começar a chorar. Passei então a extrair o
leite e lhe oferecer no copinho, mas a produção começou a cair. Foi
então que conversei com meu primeiro filho, na época com dois anos.
Expliquei que a irmã dele precisava daquele leite e que a mamãe
precisava produzir mais leite, e que uma das formas de ter mais leite,
era ele mamando também. "Quanto mais leite, mais leite", eu dizia, e ele
aceitou.
Então Martim Estêvão voltou a mamar em dezembro de 2009. Às vezes eu
extraía e ele mamava depois; de outras vezes, ele mamava e eu extraía em
seguida, tentando garantir que Mariles recebesse tudo que o meu leite
pudesse lhe oferecer.
Meu filhinho gostou da idéia e passou a pedir mamá freqüentemente, e
fomos nessa rotina até fevereiro desse ano, 2010. Até que, simplesmente,
ele desinteressou. Penso que falou do assunto na escola e alguém
implicou, porque ele veio dizer que era muito grande para mamar e que
mamar era coisa de nenem e que ele não era mais neném. Ainda conversei,
tentei argumentar, mas ele estava irredutível.
Em todo esse tempo, Mariles não tinha voltado a aceitar o leite
direto da fonte, embora seguisse consumindo-o aproximadamente 6 vezes
durante o dia e umas 3 ou 4 durante a madrugada.
Mas quando Estêvão parou, a produção desandou novamente e foi caindo,
caindo, caindo... Até que secou.
Estou exercitando a arte dificílima da aceitação; de crer que entre
o seu máximo e o sucesso existe um espaço, bastas vezes preenchido por
algo que simplesmente escapa às nossas condições de tantalizar e
absorver.
Aos nove meses, então, Mariles desmamou. Tecnicamente, fez aos
cinco, mas conseguimos empurrar a coisa por mais quatro. Eu teria feito
até julho do próximo ano, mas não foi possível.
Quando estava grávida dela e tentando um parto domiciliar, as
pessoas me perguntavam porquê, e eu não tinha uma resposta. Não bastavam
explicações lindas e poéticas - simplesmente não eram a minha resposta;
tampouco fiz isso para superar o parto do Estêvão, que é uma questão que
só será sanada com o tempo, imagino.
Eu precisei passar pela dor de um desmame precoce para me entender
no do parto, porque a motivação é a mesma. Eu insisti no aleitamento da
Ma pelo mesmo motivo que insisti em um parto digno para ela: porque eu
acreditava nessas coisas, e eu preciso investir em coisas nas quais
acredito, para ter
respeito por mim mesma. Ponto para o parto, déficit no aleitamento, e cá
temos Jobis compulsoriamente inscrita em mais um curso sobre resignação
e humildade.
Notas: na verdade, Mariles passou longos meses mamando apenas através de
uauma seringa, por também rejeitar o copinho; aos sete/oito meses,
simplesmente parou com os sólidos e ficou apenas no leite materno; agora
que acabou o lm, está comendo pouquíssimo sólido ainda e recusando
sistematicamente o LA. Investimos em sucos, água e vitaminas em copinhos
de treinamento e copinhos sem tampa.
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