Espiritualidade e Nascimento

Por Deborah Allen

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Certa noite, eu estava trocando as fraldas do meu filho e quando olhei para seu corpinho, se agitando enquanto eu falava e olhava para ele, tive um momento de epifania.
Eu poderia pensar que eu estava trocando as fraldas de um bebê e, sim, as minhas mãos estavam fazendo exatamente isso. Mas percebi que não havia lugar físico para
o meu relacionamento com meu filho e que a minha experiência com ele, a nossa experiência juntos, não foi física e espiritual, mas completamente e somente espiritual.
O assim chamado contato físico era como uma imagem tremeluzente, ou uma tela a ser pintada, ou uma maneira de jogar um jogo.

Quando o examinei de perto, eu vi a vida constituída de consciência, de movimento de afirmação da vida. Somos seres espirituais que têm uma experiência humana, e
não seres humanos que têm uma experiência espiritual. A minha compreensão no momento da troca de fraldas alterou a minha visão da realidade. Senti-me mais viva e
animada do que nunca, muito energizada, como se eu estivesse em uma onda ou uma corrente de vida.

Como parteira eu fico pensando como a espiritualidade informa o nascimento, sabendo como a fé é vital para nós mulheres. Se o nascimento é visto como um vai-e-vem
mecânico, o mecanismo do corpo pode e provavelmente vai se quebrar e terá de ser consertado. Por outro lado, se o nascimento é visto como uma relação de amor que
passa pelas mudanças e alterações dinâmicas, as possibilidades se tornam o nosso tema musical. Eu defino o nascimento como um evento espiritual na vida da família
e eu procuro entender a espiritualidade do nascimento.

O óvulo e o espermatozóide não explicam o aparecimento das crianças. Certamente nós, pais, não somos os criadores dos nossos filhos. Nós não temos ideia de como
organizar a divisão e diferenciação celular. O nosso bebê crescendo é a oportunidade de contemplar, com o nosso sentido espiritual, uma existência espiritual, porque
é isso que dá origem à ação. Isso requer prática! O mundo apresenta uma visão material para nós constantemente.

Amar é um verbo. As pessoas mudam quando são amadas. Nascer é um verbo. As pessoas mudam quando nascem ou quando dão à luz. Quando o amor e o nascimento estão unidos,
as fortes mudanças e movimento são inevitáveis. Quando o vento passa sobre o lago sereno, vemos ondulações na água, mas não vemos o vento. O amor passa por nós constantemente.
Nós não vemos o amor, mas sentimos os seus efeitos, o seu movimento. Nós não podemos parar de amar ou evitar as mudanças que o amor traz assim como não podemos fazer
o vento parar de soprar. Da mesma forma, nós não podemos evitar que o nascimento ocorra ou as mudanças que o nascimento traz. No entanto, nossa perspectiva espiritual
irá determinar como nós integramos nossas experiências.

Eu digo às minhas futuras mães para intensificar suas práticas espirituais durante a gravidez. A gravidez é um momento singular de estar aberta e receptiva às ideias
divinas. O nosso bebê que cresce força nossa atenção para a contemplação de uma existência mais espiritual. Nós nos tornamos humildes e reverenciamos o desdobramento
da criação na medida em que carregamos e damos à luz aos nossos bebês. Os desafios da gravidez, do parto e do nascimento vão trazer nossa confiança em e conexão
com Deus, quando descobrimos que nossos recursos são limitados e precisamos dar mais de nós. É realmente apenas buscando a força e o conforto do Todo-Poderoso que
nós enfrentamos nossos desafios com graça e gratidão.

Eu participei do parto de uma mãe, onde durante o trabalho de parto a mãe começou a orar por saber que o bebê era de Deus e que ela não era responsável pela sua
vinda ao mundo! Eu prestei atenção em como esta mulher seguia a orientação interior a cada momento. Ela ficou agradecendo a Deus e percebendo a alegria de ser mãe.
Eu nunca tinha visto nada parecido. Um filho saudável nasceu em breve.

Alguns anos atrás eu me perguntei: "Será que eu sei, se é que sei, o que é absolutamente verdadeiro e além de qualquer dúvida?" Minha resposta veio rápido: "Eu sei
que eu amo meus filhos". Ninguém poderia me convencer do contrário. Outro pensamento seguiu imediatamente: "Eu não criei esse amor. Ele simplesmente estava lá".
Bem, isso foi um alívio. Eu sabia algo ao certo! A presença do Amor se tornou mais real para mim através de meus filhos.

Eu acho que é o nosso trabalho saber quem somos espiritualmente e reivindicar nossa herança divina. Nossa identidade está sempre relacionada à vida, ao amor, ao
espírito, a Deus como um todo. Deus não pode ser dividido em partes. Portanto, eu entendi que também devo ser a filha do nosso Pai/Mãe Deus, merecendo, assim como
os meus filhos, receber o amor. Se imaginarmos a origem e essência de ser, simbolizado pelo sol, nós somos como os raios de sol fluindo dele. Nós todos estamos emanando
de nossa única fonte. Que outra fonte de ser poderia existir sem ser Deus, se Deus é infinito?

Desmond Tutu é um clérigo Sul Africano e ativista que se tornou reconhecido em todo o mundo na década de 1980 como um adversário do apartheid. Ele escreveu um livro
com sua filha, Mpho Tutu, em 2010, intitulado Feito por amor: e porque isso faz toda a diferença. Cito:

"O impulso para se preocupar com o outro, o instinto de bondade é um fio brilhante entremeado no tecido do nosso ser. Não podemos alterar a nossa essência.
Nós somos feitos por Deus, que é a própria bondade. Somos feitos como Deus.
Nós somos feitos para a bondade".

Se eu pudesse lhes oferecer qualquer coisa, eu oferecia o conhecimento interior de que você é a ideia e a criação amada de Deus, o amor divino, no qual há toda a
saúde e felicidade, no qual há imunidade às dúvidas sobre si mesmo, à doença e ansiedade. Por favor, especialmente na gravidez, pense nas verdades espirituais, esteja
cercada de beleza, e, sem pressa, respire e acalme-se, acalme seu bebê, e simplesmente esteja aqui e agora, ciente da própria consciência.