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"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Crônica de uma cesárea anunciada

Ela está grávida e diz que quer parto normal. Digo que posso lhe passar
relatos, vídeos, textos com evidências científicas... Não demonstra
qualquer interesse. Passa a gravidez toda dizendoq ue quer parto normal,
mas apontando as excelentes recuperações de cesariadas de seu
conhecimento.
Nas vésperas do parto, diz que o que mais quer é ganhar nenem com
sua médica de sempre, que prefere cesárea com ela a parto normal com
qualquer outro.
Alguém tem dúvida do resultado? Cesárea, claro, por falta de
dilatação.
Vamos visitá-la. Ela lamenta sua cesárea e diz que "Deus quem quis
assim". Eu devo ser uma pessoa muito má, porque disse: deixe Deus fora
disso. Você quem quis.
Imagina que você está com cede e alguém lhe ciz: para matar sua
cede, tem água e coca. O que você prefere? Água, você diz. É mais
saldável, mais politicamente correto e mais saboroso. O interlocutor,
porém, atalha: um, mas o filtro está vazio. Vai ter que ser coca mesmo.
Se você realmente quiser *água*, vai se rebelar. Espera aí, eu espero o
filtro enxher! Ou: será que o vizinho me negaria um copo de água? Ou
ainda: vira o filtro, às vezes cai um pouquinho que esteja lá no fundo.
Mas se, no primeiro oferecimento, você aceitar a coca, não venha me
dizer que não venha dizer que não queria.
Aí, muitos alegam a questão do contexto. Tá, tudo bem, o contexto
existe, mas *nós* somos co-autores dele. Existem muito poucos contextos
ermeticamente fechados, sem sequer uma brecha para você imprimir sua
vontade.
Claro que lutar e investir podem não ser suficientes; claro que o
imponderável pode atuar, no final de contas; mas não vale confundir a
vontade de Deus com a sua. Quem realmente quer, não espera que a vida
estenda um tapete vermelho para conquistar seus objetivos, mas, se for
preciso, tece os fios pra fazer o tapete em que precisa pisar.
Acho muito injusta a afimação de que "parto normal é pra quem
merece", porque exclui totalmente a existência do "imponderável" que,
sim, atua. Como você pode dizer que mulheres definitivamente
empoderadas, capazes e que batalharam pro seus partos antes mesmo da
gravidez não "mereciam"? Quem somos nós para definir quem merece ou
não?
Entretanto, para melhor discernir, é indispensável dar às coisas o nome
que elas têm: a cesárea dela não foi da "vontade de Deus", nem um lance
do Imponderável; foi fruto de suas próprias escolhas, ou inércia, o que
é mais adequado, lembrando, entretanto, que a inação também é uma
escolha.

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