Frase

"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Formas alternativas de dizer "não"

No começo, 7, 8 meses do Kevo, eu era bem tradicional, do tipo não é não
e só mexe no que eu quiser. Só que, primeiro, a relação ficou muito
tensa. Eu não era mais mãe dele, eu era sargenta de um regimento com um
único soldado, e pior! Um soldado indisciplinado! Pior ainda: quanto
mais ele me "desobedecia", mais eu me sentia uma mãe incompetente e mais
eu queria "provar minha autoridade" (leia-se poder ditatorial), para me
convencer de que eu era uma "boa mãe", pois era capaz de fazer meu filho
de 7 meses me obedecer. Aí teve um dia que eu parei pensando naquela
frase "comece do jeito que deseja manter" e, de boa, eu não queria
aquilo para minha relação com meus filhos! O que eu ia conseguir era
entrar em uma queda de braço com ele através dos anos, perdendo, assim,
muitas janelas de interação e, o pior!!! Afastando-o de mim
emocionalmente ! , Eu não quero isso. Sempre que eu pensava em um filho,
pensava em uma relação amorosa e intensa, em uma relação de confiança e
respeito, de cumplicidade e crescimento mútuo, não naquela guerra de
nervos infernal. Não me divertia nem um pingo e o meu filho, que fora um
bebê calmo até ali, estava se tornando uma criança irritadiça e
histérica. As pessoas diziam que "era normal que ele mudasse tanto", mas
eu sentia que aquilo era resultante do nosso relacionamento. Se eu me
sentia incomodada, imagina ele? Então eu me toquei de um monte de
coisas. A autoridade não é um posto, é uma construção. Um papel em que
você mais serve que é servido e mais dá que recebe. Ele não vai deixar
de fazer o que quer porque eu disse que não, e isso não é
desobediência!! É sinal de que meu filho é um indivíduo e que quer
preservar isso! É sinal de que ele tem suas próprias opiniões sobre as
coisas e pretende ser respeitado por isso e lutar por esse direito. E
como eu não o entenderia, afinal, se eu também sou assim e se gosto de
mim sendo assim? Quer me fazer fazer uma coisa? Diga que eu sou incapaz
. Eu posso nem ter tanta vontade, mas faço só de birra. Quer me fazer
subir nas tamancas? Tente mandar em mim, insultando minha inteligência e
minha liberdade simplesmente pelo esforço da sua vontade. O meu filho
era como eu, e eu estava incomodada com isso? Hipocrisia, não? Só que
nesse ponto eu parei. Não tenho a menor vontade de ser permissiva. Sou
chata, chatíssima, e amo a educação, a discipllina, aquelas crianças
educadinhas que dificilmente matam a gente de vergonha. E, sim, eu
queria ser respeitada pelo meu filho, naturalmente. Aí eu tive que
repensar tudo. Se o que eu quero é legítimo, o errado não são meus fins,
mas meus meios. Eu queria o certo, ao menos do meu ponto de vista, mas
estava indo pelo caminho errado. Aí eu aboli do processo educativo aqui
em casa tudo que eu achava que ia contra as bases elementares do
respeito. Meu critério foi simples: não vou usar com meu filho tudo que
eu sei que não funciona comigo. Está bem, ele não é *como eu*, mas gosta
de respeito e tem inteligência. Então eu lembrei de quando eu era
criança, e de todos que tentaram me educar e cortei tudo que via que me
incomodava na época e não resultava, e tudo que me incomoda até hoje:
castigo, agressão física, rotulação, grito e sermão em público. E botei
como meta tudo que fazia e faz até hoje efeito em mim: eu gosto de ser
tratada com respeito e dignidade; gosto que minha inteligência não seja
ofendida e não gosto que me limitem sem que eu tenha podido tentar. Se
alguém acha que eu estou errada, converse comigo; Se quer mudar minha
opinião, ofereça-me a sua, como quem dá um presente, não como quem joga
um tijolo na minha cabeça! É é assim que eu to fazendo, até hoje. Se dá
trabalho? Caramba, um trabalhão!!!! Eu passo, das quatro da manhã às
sete e meia da noite com ele, conversando, falando, explicando,
abraçando, estimulando, afirmando, sugerindo, valorizando ou
desvalorizando... O dia inteiro, de domingo à domingo. Mas somos
companheiros nisso tudo e sei que ele me vê como alguém a quem respeita
e em quem confia, não como apenas "a chata" e a que não deixa ele fazer
as coisas. Se ele está seguro em uma atividade, eu me afasto para que
ele tenha espaço, mas frizo que estou disponível (se precisar da mamãe,
é só chamar) . Se ele me quer por perto, apenas me pega pela mão e eu
fico disponível o tempo que for. No começo eu me preocupava que ele
conseguisse ficar minutos e minutos sem mim; agora aceitei
emocionalmente o fato de que ele é a prioridade e que conseguir ficar
sem ele não é fundamental. Coincidentemente, ele passou a me solicitar
menos depois disso. Tudo isso com muito riso, muita brincadeira,
muiiiiiito toque físico, muita diversão e muito respeito, também. Com
esse processo, os meus "nãos" diminuíram drasticamente e, por isso,
passaram a ter muitíssimo mais valor. O povo se impressiona porque ele
me "obedece", mas o ponto é simples: ele não me obedece porque eu não
mando! Dá pra entender a doideira? Eu falo firme, converso, explico, mas
nunca nada como "vocÊ vai fazer isso e pronto!" ou "eu estou mandando e
ponto final! Não é não", porque, se eu fizer isso, ele vai se sentir
ameaçado e só vai pensar em se defender e nem vai se fixar no que eu
estou dizendo. Eu não o obrigo a fazer as coisas; sutilmente o conduzo,
o que é um pouco diferente. Eu saquei também que o Kevo não consegue se
fixar em mais de uma coisa subjetiva de uma vez. Se eu o confronto,
simplesmente, ele se fixa no confronto, não na causa, no conteúdo ou no
objetivo. Acho que isso ele não entende. Mas se eu vou até onde ele está
e tento conduzi-lo, ele consegue acompanhar as etapas do meu raciocínio
e mudar a disposição.

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