"felicidade é uma questão de nervos no lugar"

O meu sábio, diletíssimo e experiente amigo Aluísio Boynard é quem é
o autor dessa pérola, no sentido lato da expressão. E não é que a frase,
até onde posso ver, é irretocável?
Quando somos adolescentes, temos sonhos grandiosos, tais como
namorar o Edward Kullen ou um que se lhe assemelhe, viajar ao redor do
mundo, sermos estrelas midiáticas e daí por diante. Achamos,
eventualmente, que a felicidade só nos será possível se tivermos todas
essas coisas, esquecidas de que casar com um príncipe encantado, caso
exista um, ou viajar ao redor do mundo ou ser mundialmente famosa não é
para qualquer uma.
Com o tempo, a vida se apresenta, e o que para algumas é o puro
retrato da mediocridade, passa a ser a mais franca expressão de
felicidade... Basta ter... Nervos no lugar.
Claro que existe uma linha tenuíssima entre "reduzir suas
expectativas a um nível aceitável" e ser uma conformista; pessoalmente,
desisti de encontrar essa divisória. Prefiro pensar que o ponto está em
descobrir, a sério, o que é realmente indispensável apra você e investir
nisso, com todas as suas forças, com toda a sua coragem, com todo o seu
interior... E, na conquista dessas pequenas vitórias, muitas vezes
invisíveis aos olhos do mundo, é que vamos encontrando a paz e a
verdadeira felicidade / satisfação.
Identificar o que é efetivamente importante entra na questão dos
"nervos no lugar". Às vezes vocÊ se estreça, empregas muito da sua
energia mental se frustrando ou se rebelando com algo que, afinal de
contas, nem é tão importante assim.
Hoje é meu último dia com 25 anos de idade. Como acontece depois que
passamos dos 22, a idéia me deixa levemente depressiva. Pensei em vir
aqui, entretanto, para registrar algumas das coisas felizes que me
aconteceram hoje, embora, aparentemente, não tenha acontecido nada.
Fiquei extremamente feliz quando o meu filho me abraçou e beijou,
antes de dormir, naquele estágio delicioso entre a vigília e o soninho
chegando.
Fiquei feliz quando pude, depois de muitos meses de pura exigência,
sentar ao computador e zoar mexendo em comunidades sobre Edward Kullen.
Foi... Relaxante. Fiquei feliz quando, depois disso, comecei a ler um
pouco mais de Irvin D. Yalom. Ele sempre mexe com as minhas idéias e
isso foi muito gostoso. FIquei também feliz quando consegui comer pizza
ao jantar, a primeira vez que punha algo no estômago durante o dia
inteiro, e mais feliz ainda por me permitir um copo de coca depois.
E agora meu esposo disse que me comprou um presente surpresa, que
ele jura que é uma porcaria, mas que eu tenho certeza de que vou adorar,
porque veio dele... E essa expectativa me deixa contente...