Oxalá...
"Eu fico feliz que Charlie tenha deixado você sair - você está precisando tristemente fazer uma visita
a uma livraria. Eu não posso acreditar que você está lendo O morro dos ventos uivantes de novo. Você já não sabe ele de
cor?" "Nem todos nós temos memória fotográfica",
eu disse curtamente. "Com memória fotográfica ou não, eu não entendo por que você gosta disso. Os personagens são só pessoas
que arruínam a vida uns dos outros.
Eu não consigo entender como Heathcliff e Cathy acabaram sendo comparados a casais como Romeu e Julieta ou Elizabeth Bennett
e Sr. Darcy. Essa não é uma história
de amor, é uma história de ódio." "Você tem sérios problemas com os clássicos", eu disparei. "Talvez seja porque eu não
fico impressionado com antiguidades." Ele
sorriu, evidentemente satisfeito por ter me distraído. "No entanto, honestamente, por que é que você lê isso de novo e de
novo?" Os olhos dele estavam vívidos com
real interesse agora, tentando - de novo - desvendar os complicados trabalhos da minha mente. Ele se inclinou na mesa pra
pegar o meu rosto nas mãos dele. "Por que
isso é apelativo pra você?" A sincera curiosidade dele me desarmou. "Eu não tenho certeza", eu disse, lutando pra ser coerente
enquanto o olhar dele não intencionalmente
confundia os meus pensamentos. "É alguma coisa relacionada a inevitabilidade. Como nada consegue mantê-los separados - nem
o egoísmo dela, nem o mau dele, e no fim,
nem mesmo a morte..." O rosto dele estava pensativo enquanto ele pensava nas minhas palavras. Depois de um momento, ele
deu um sorriso de zombaria. "Eu ainda preferiria
se um deles tivesse uma qualidade que os redimisse." "Eu acho que é disso que eu estou falando", eu discordei. "O amor deles
é a única qualidade que os redime."
(Eclipse)
Oxalá o amor me redima de tudo isso, no final. Oxalá que amar tanto,
tão irrevogável, intensa e constantemente sirva para me redimir ou
atenuar alguma da mácula de ser eu mesma.
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