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"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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terça-feira, 21 de abril de 2009

Reflexões sobre a maternidade

A maternidade é um evento que te revoluciona,
que te leva, de revolução em revolução, a ser uma pessoa melhor, mais
intensa, mais amorosa. E o amor pelo teu filho, pela tua família, chega
a um ponto em que extrapola e se converte em uma espécie de cumplicidade
e comprometimento com cada vez mais pessoas, até se converter em uma
onda terna e ativa de respeito por todos os seres do planeta.
Quando você gera, então você entra em conexão com o mundo, a terra,
as plantas, os bichos, seus antepassados, a vizinha que também pariu, a
anônima que quer engravidar e não consegue.
E então você tem uma piedade ardente e absurda daquela que quer amar
mas não sabe como, daquela criança cuja mãe é uma maluca consumista,
daquela mãe que está com os braços vazios.
É uma loucura, Fernanda, e a gravidez, bem como os primeiros anos de
um bebê, te jogam nesse turbilhão, e te fazem consciente de uma
realidade muito além dos murinhos invisíveis da tua vida particular. E
não tem como viver isso e se sentir como se nada tivesse acontecendo,
ver tudo como era antes. Teu corpo muda, tua própria vivência e
percepção do feminino em você e nas outras mulheres muda, tua visão do
marido muda... Ou ele pula fora, ou vocês entram numa comunhão para além
de qualquer coisa que hajam experimentado antes...
E tudo isso é lindo, é pleno, mas é exigente. Desde o trabalho de
parto do Estêvão, sinto como se meu ser tivesse se aberto a uma
realidade diferente, cheia de aspectos negativos que eu não conhecia,
mas de uma delicadeza e uma profundidade que me fazem sentir tão
minúscula, tão insignificante, e, a um só tempo, tão poderosa! E a
gravidez da Mariles, de certa forma, ampliou esse ciclo, ampliou minhas
objetivas de percepção, e isso simplesmente me consome demais! De
repente 24 horas é muito tempo para esperar que finde mais um dia para
que eu tenha uma semana a menos de espera por minha filha... Paradoxalmente, 24 horas é
tempo demais para pensar em tudo que eu preciso pensar, para amar tudo
que eu preciso amar, para dar a eles toda atenção que eles precisam e
para ler tanta coisa que tá sendo reescrita dentro de mim.
A maternidade, cada pequeno evento da vida do meu filho, cada
pequena dificuldade, cada vitória, cada tropeço, cada hora de alegria
partilhada, tudo isso faz cair trinta mil fichas na minha cabeça, e eu
simplesmente não consigo, no meio de tudo isso, por exemplo, sentar e
ver uma novela, ler um romance ou qualquer coisa assim.
De repente meu mundo é tão grande, que não cabe em mim, e eu ignoro
tanta coisa, que simplesmente é imperdoável que eu me distraia, antes de
pelo menos molhar os pés na sabedoria da qual minh'alma tem cede.

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