Tudo e nada
Eu não tenho o que escrever, mas gostaria de poder escrever. Sabe como
é, a época merece ser registrada. Há quase três semana que estamos em
compasso de espera por Mariles. Qualquer hora pode ser a Hora P, das
mais convenientes às mais absurdas. Efetivamente eu tento viver como se
isso não tivesse acontecendo, desconcentrar um pouco, mas é cada vez
mais difícil, na medida em que o estado gravídico se torna mais incômodo
e eu me torno mais cansada e indisposta. A mente lenta, lenta, sem
vontade de nada em específico, cada vez com menos coisas em pauta para
além das impressões de desconforto físico. A sério, anda bem difícil de
ignorar.
Mas então ela está vindo. Os últimos dias antes de ela existir em
nós. Os últimos dias de não saber, de apenas questionar, de forjar
personalidade e feições na mente, antes que a realidade nos toque, nos
enterneça, nos provoque, nos transforme e nos apavore. Mariles é
promessa e iminência, correria e pescaria, tudo de uma vez só e ao mesmo
tempo, agora.
As contrações que não resolvem nada, mas que não podem mais ser
ignoradas; o quarto fechado com cheiro de móveis carentes de uso.
Aqueles dilemas absurdos: se eu como, tenho dor; se não como, posso
ocasionar um sofrimento fetal; se eu não bebo água, tenho cede; se eu
bebo, tenho que fazer xixi, o que significa uma série de incômodos. Se
eu como isso, tenho azia; se não como, tenho hipoglicemia.
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