Frase

"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Minha experiência como mãe de dois filhos

Fiquei pensando na tua mensagem por todos esses dias e pesando se
valia ou não a pena escrever o que vou escrever. Imaginei que talvez
valesse e estou aqui.
Na verdade, naturalmente eu não leio pensamentos, eeee.. Mas acho
que tenho coragem de admitir pra mim mesma e depois de expressar em voz
alta sentimentos não tão bons que eu tenha, especialmente na
maternidade...
Mas então... Estêvão foi uma criança desejada e muito suada, se
posso me expressar. Nosso sonho sempre foi ter mais de um filho - nossa
meta eram 4 - mas quando Estêvão veio, após 3 abortos e mais de uma
semana na uti, isso saiu das nossas
expectativas.
Eu me apaixonei perdidamente por esse menino. A vinda dele foi a
melhor coisa que nos aconteceu, a mim e ao meu esposo. Psicologicamente,
todos que me conhecem de perto, dizem que minha vida se resume em antes
e depois do Estêvão. Meu casamento, que já era bom, ficou ainda
melhor e, juro por Deus, até minha libido melhorou.
Foi tanta a realização, que o espaço que antes era para quatro foi
murchando, de modo que Estêvão estava lá, por todas as partes do nosso
coração. Eu girava exclusivamente na órbita dele, e estava muito feliz
com isso, obrigada. Pode compulsar as mensagens antigas, se duvidar:
aqui dentro, nunca, jamais, ninguém me viu reclamar de estar
sobrecarregada ou com um certo sentimento de vazio na vida, - coisas
muito comuns quando se materna em tempo integral, como eu faço. Minha
vida era um triângulo em partes muito bem definidas: Estêvão, Vinícius e
a Internet no meio.
Então, um dia, juntos, sentimos a falta de mais alguém. Mas, como te
explicar? Eu olhava o meu futuro e a via lá, integrada, partícipe,
amada... Mas olhava para o meu presente e era como tentar colocar uma
pedra imensa e arriscada em uma construção de designe impecável. Quando
eu olhava para os anos seguintes, Mariles não era só uma presença
aceitável, como tão necessária quanto Estêvão foi, quando existia apenas
na tecedura dos nossos sonhos. Mas no presente, tínhamos um monte de
"e, se's":
e se ela antagonizar o Estêvão?
E se ela for tão absorvente, que o Estêvão fique em desvantagens?
E se não gostarmos dela tanto quanto gostamos do Estêvão?
Só que a imagem dos nossos futuros era mais forte que a nossa
pequenez de coração. A gente acho que temia porque era incerto,
aventura, desafio, mas que, no fundo de nossos corações, desejávamos
outro filho.
Eu também comecei a pensar que seria bom para Estêvão ter alguém com
quem dividir a vida, dividir aquelas coisas que a gente só conta para um
irmão ou um melhor amigo, por mais que seja afinizado com o pai e com a
mãe. Eu realmente cheguei a pensar que seria uma mãe melhor, se tivesse
alguém mais para amar, e pensamos que o desejo simultâneo que surgiu em
Vi e em mim, não devia ser desprezado.
Então veio Mariles, gravidez planejada, outra vez, e tudo nos
surpreendeu... Para melhor. Estêvão melhorou muito depois que a irmã
dele chegou. Sem dúvidas, seu mundinho ficou maior, seu coração se
espichou, seus olhos, que viam por uma espécie de canudo, agora
comportam mais variáveis emocionais.
Mariles é muito diferente de Estêvão, me exigindo, em vários
aspectos, muito mais que ele fez, mas eu nunca senti que estava tirando
de um para dar ao outro. Não é como se meu coração fosse uma caixa na
qual, se outro entrasse, o primeiro ficasse apertado. Como dizia a frase
que eu usava assim que Mariles nasceu, é como se ele tivesse inchado,
ficado com duas vezes o seu tamnnho no que se refere à capacidade de
sentir, e sofrer, e amar, e esperar e se regosijar, mas com esse espaço
extra automaticamente preenchido por ela. Se não é como se ele fosse uma
caixa, é como se fosse duas cavernas com túneis, cada passagem separada
e depois se bifurcando para desembocar em um único espaço de amar e de
acolher.
Em termos de tempo, ter dois filhos exige de mim muito mais
sabedoria para administrá-lo . Honestamente, eu me sinto traída
por meu dia ter apenas 24 horas. Por mais que eu me esforce, sempre
fica alguma coisa pela metade, e com isso a lista é que tem sido deixada
de lado. Eu mal posso sentar, respirar e tomar banho. Mas de um ponto de
vista emocional... Quando minha família tinha daqueles momentos simples
e perfeitos, tipo todo mundo comendo pipoca no quintal, ou todo mundo
rindo na cama de manhã... Secretamente eu agradecia a Deus e pensava:
caramba, paizinho, o senhor nunca me disse que se podia ser tão feliz
nessa Terra... E hoje, quando temos esses mesmos momentos com Mariles
estirada no edredom ou encaixada no sling, eu penso: caramba, paizinho,
o senhor não tem limites mesmo!...
Mariles trouxe o que a gente nem sabia que precisava, mas de alguma
forma intuiu quão necessário era. Ela alegra nossas vidas simplesmente
por existir, por soltar seus gritinhos pelo ar, por balançar suas
perninhas ao acaso, por estender as mãozinhas para o nosso rosto ou para
nosso cabelo. Ela não precisa ser ou fazer nada, só precisa existir. É o
mesmo amor incondicional e absoluto que Estêvão despertou em nós, sem
que isso faça sobrar ou faltar nada para ninguém, exceto, talvez, ao meu
score de postagens na bestbaby. :-)))
Só uma coisa eu discuto nisso tudo: sempre que eu perguntava a mães
com mais de um filho, elas eram unânimes: mãe gosta de todos os filhos
igual. O amor é do mesmo jeito. E acho que isso é que enche de medo
quando vamos nos aventurar ao segundinho: caramba, e se eu, ao contrário
de todo mundo, não gostar dos dois igual?
Tinha até uma mensagem que dizia: a mãe gosta mais.... do filho que está
doente, do filho que está com más notas, do filho que está triste...
Tipo, como ela fosse capaz de ser absolutamente imparcial e amar mais
àquele que precisasse, simplesmente isso.
Bem, talvez eu seja a única mãe diferente do resto, mas não foi
assim comigo. Eu não amo Mariles e Estêvão da mesma maneira, de jeito
nenhum, sinto muito. Não tem comparação. Muito bem, são amores intensos.
Eu lutaria por minha vida, mesmo sob condições miseráveis, para ficar
mais com eles, e da mesma forma desistiria da minha vida alegremente, se
disso dependesse a sobrevivência de qualquer um. Ainda assim, não
existe comparação. Meu amor por Estêvão é intenso, ardente, como o vento gelado
depois de um dia pavorosamente quente, como um grito de alegria após
uma maratona, como o que deve sentir o alpimista diante da vitória de
galgar um pico escarpadíssimo que oferecesse uma vista magnífica. Amar
Mariles não é nenhum pouco como isso. É como... Beber chocolate quente,
andar na areia descalços, pisar na água da praia, encontrar um amigo
que não se vê há muitos anos e chorar nos braços dele. É como rir "só
porque" o dia está bonito, como achar um bombom sonho de valsa de
surpresa, dentro de uma bolsa que a gente não usa há muito tempo. A
intensidade arrebatadora e a delicadeza que passifica, o gosto
amadeirado de uma visita ao campo e passear de motocicleta... Tudo isso
junto todos os dias nos meus dias... Enfim, ser mãe de dois ou
de um é bom demais!

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"O amor é astucioso.
Nunca é prático nem diário. Você jamais consegue se acostumar com ele. Você tem de caminhar com
ele, e depois deixá-lo caminhar com você. Você nunca pode empacar. Ele o faz mover
como a maré. Ele o leva para o mar, depois
toma a atirá-lo na praia. Ador de hoje é a base de um passeio pelo paraíso.
Você pode fugir dele, mas nunca pode dizer não."
(Amytã - Os cem sentidos Secretos)

Jo M. E. Guerra de Carvalho - Esposa do Vi, mãe de Martim Estêvão e
Mariles Estela

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