Mãe suficientemente má
Ah, gente, quer saber? Agora "perdi a paciência", também.
Mas, de verdade, gente, sejamos francas: mães ruins não passam dias
e dias em listas sobre bebês, para conversar com outras mães com o
objetivo de somar experiência. Elas sabem de tudo e, no máximo, ouvem as
próprias mães, se muito.
Quando o filho está enjoadinho por algum motivo, elas não ficam se
perguntando o que estaria acontecendo - dentinho? Pico de crescimento?
Uma alteração na rotina que deu insegurança? Não, claro que não. Elas
não precisam saber. Elas apenas aproveitam o momento para dizerem a
todos quão vítimas elas são de seus filhos extremamente difíceis.
"nossa, que filho lindo o seu!" "é, lindo ele é.. Mas dá um
trabaaaaaaalho!" "bonzinho, ele? leva pra sua casa!"
Mães ruins não ficam tristes por colocarem seus filhos em creches.
Muitas, na verdade, colocam eles lá assim que possível, simplesmente
para terem um tempo para si... O que é compreensível, claro... Só que,
quando eles chegam em casa, se elas podem, colocam uma babá; se elas não
podem, deixam com vizinho, avó, quem estiver por perto.
Mães ruins não contam até três quando estão irritadas; não ficam catando
texto na net de psicólogia, comunicação não-violenta e esas coisas
assim. Elas dizem frases como "deixa de ser fresco!", "cala a boca senão
eu te arrebendo" (e, acredite, elas cumprem!) ou, ainda, dizem
frases como "eu vou te jogar no lixo", "onde eu tava na cabeça quando eu
tive você" e outras pérolas culturalmente quase sempre tidas como
normais, afinal, mãe pode tudo.
Dificuldades de sono, idiossincrasias psicológicas, necessidades
peculiares - tudo isso elas ignoram solenemente, ou, o que é pior,
desvalorizam ou culpam a criança por não serem como elas querem.
Mães ruins não pensam "oh, eu tenho que melhorar, porque eu sempre
chego atrazada quando meu filho faz arte"; elas pensam que a culpa é
dele por "fazer arte", ah, e muitas pensam que podem coibir isso a custa
de castigos físicos ou agressões psicológicas graves! Vi uma que, quando
a filha de nove meses fazia algo que não devia, tipo pôr a mão na
tomada, ela batia primeiro para dizer que não podia mexer depois.
E as chantagens??? "Se você não fizer isso, eu não gosto mais de você!",
"se vocênão guardar esses brinquedos, eu vou dar você pra outra pessoa!"
(sim, eu já ouvi essa pérola muitas vezes.)
Não estou dizendo que
não existam justificativas, um ciclo de violência a ser quebrado, uma
alma atormentada por trás... Estou apenas colocando o conceito mãe boa x
mãe realmente ruim.
Agora...
Me desculpem... Deixar cair da cama sem querer, a pele ficar vermelhinha
por acaso, arranhar o corpinho na saboneteira por azar - me perdoem, mas
isso é simplesm ente sinal de humanidade das pessoas. Essas coisas
acontecem. Faz parte da vida. Existe uma forma muito simples de nunca
errarmos com nossos filhos: jamais convivamos com eles. Tiro e queda.
Aí vem a grande história da culpa... Tem que ver uma coisa
importante, eu acho... Se a culpa é a consciência apitando, ou se é a
nóia pintando.
Exemplo (irreal, por acaso) ConsciÊncia apitando: eu estou aqui, escrevendo esse texto. Estêvão fica
em roda de mim me chamando para brincar e eu dizendo que não.. Bate a
culpa... Porque eu sei que brincar com meu filho é mais importante que
escrever esse texto, cujo término pode ser adiado; eu sei que as
necessidades emocionais dele são bem mais importantes que eu terminar as
minhas coisas, que nem fim profissional tem...
Exemplo 2: *esse real*: JO passou o dia inteiro cuidando dos dois, com
marido no hospital. (essa aconteceu hoje). Mariles no auge da crise dos
dentinhos. Estêvão ativo como ele só o dia todo.
Meu dia começou às 4 da manhã e eu não parei até agora. Aí, boto Mariles
pra dormir e o Estêvão. Quando ele dorme, ela acorda... E quem disse que
parava de chorar? Peito, sling, nada adiantava...
Decido então slingar ela e ir dar uma volta lá fora... E a porta de
vidro estava fechada... E eu não vi, porque o vidro é transparente. Eu
não estava sequer andando de preça, mas a Mariles, de dentro do sling,
bateu com o tronco em cheio na porta fechada... Fez um barulhão, mais da
porta batendo no portal que do impacto, e isso assustou a bebê, que
estava quase dormindo.
Ela abriu um berreiro e eu me senti um lixo.
Depois pensei... Caramba, que se dane!! Eu tinha mais que uma boa
desculpa pra delegar eles a terceiros ou intafunhar em uma escolinha,
e, no entanto, estou aqui com eles, dia após dia, quer chova, quer faça
sol, quer esteja ótima ou de tpm, quer esteja nas nuvens ou virada com
o marido.. Eu tento todo dia ser a mesma, todos os dias ser coerente,
todos os dias ser atenta aos míiiiinimos detalhes das necessidades
deles, todos os dias olhar além... E então, porque eu bato a menina na
porta por causa de uma distração minha, potencializada por uma limitação
física, uma noite mal dormida e um dia estafante, eu vou me
martirizar???? Esqueça...
Gente, de boa.. Auto crítica, consciência, coragem de enfiar a mão
na massa das próprias limitações pra mudar.. Tudo isso é muito bom.. Mas
se desvalorizar simplesmente por ser humana, não rola...
E uma coisa que acho que dá no que pensar: se nós não nos
valorizarmos, como vamos esperar que eles nos valorizem?
Eu não sou perfeita - e nunca vou ser. Eu tenho muiiito a melhorar
-e vou melhorar, trabalho todo dia nisso. Mas, gente, de boa, eu sou
uma mãe boa demais! Ativa, consciente, dedicada, amorosa, instintiva,
mamífera e o que mais vocês quiserem . E acho que ia ser bom que muitas
de nós também tivéssemos a coragem de colocar no cômpito geral todas
essas questões...
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