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"A noção do dever bem cumprido,ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado
travesseiro para a noite."
(Os Mensageiros)


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domingo, 15 de março de 2009

Maternidade em tempo integral e vida

Eu queria ficar com meus filhos em casa até os quatro anos mesmo
antes de engravidar. EU sempre achei que esses primeiros anos eram o
tempo de eles absorverem ao máximo nossos valores, nosso jeitinho. Eu
queria, eu realmente precisava, que nós tivéssemos um laço emocional
forte, intenso, capaz de resistir a qualquer coisa, inclusive a qualquer
desencontro de qualquer das partes.
Então, na minha cabeça cheia de ideais e sem nenhuma experiência, as
coisas eram muito simples:
Tudo que eu vou ter que fazer é deixar meu desenvolvimento profissional
de lado por uns cinco anos (gestação até ele entrar na idade escolar) e
pronto! Nesse período eu vou ser mãe em tempo integral e estará tudo
resolvido.
Mas não foi tão cor-de-rosa assim. Uma coisa é você pensar sobre a
maternidade; outra totalmente diferente é vocÊ ter aquela coisinha
pequena nos seus braços, a consciência de toda sua responsabilidade
e.... Céus!!!!! E o dia que parece que tem mil horas, não 24!!!!
Até os sete meses do Kevo foram tudo flores. Depois ele passou a não
dormir e a exigir de mim cada segundo. Ele simplesmente não admitia
restrição ao seu espaço, nem qualquer coisa era boa suficiente para
atrair seu interesse por mais de cinco minutos. O menino era uma
verdadeira espolheta engatinhante, com dom para fazer o que não podia,
com a capacidade de concentração mínima e ativo como três!
Pra vocÊ ter uma idéia, uma mãe que tem gêmeos, ao ver meu filho
naquela época disse: nossa! ele é mais levado que os meus dois juntos! E
estava falando a verdade.
Meu pequeno escalava tudo, tentava abrir a geladeira (e conseguia
depois de pouco esforço), jogava a mamadeira longe só por diversão.
Eu pensava mesmo em hiperatividade, mas morria de medo de consultar
e estar certa. E eu não sabia o que fazer com ele, porque ele não ligava
para nada e eu, como mãe, tinha algumas restrições. Eu sou incapaz de
socar meu filho na frente da tv a metade do tempo em que ele fica
acordado, por exemplo, então, o fato da telinha não o interessar por
mais de cinco minutos não era problema... O problema é que eu sabia
muito bem o que eu não queria fazer, mas não tinha a menor idéia do que
eu podia fazer.
Foi o tempo em que eu tentei ser uma mãe tradicional e entopia ele
de brinquedos, para ver se ele conseguia se manter distraído por algum
tempo.
Até que um dia, dentre muitas fichas que caíram na minha cabeça
naquela fase,
percebi uma coisa importantíssima: o meu foco não tava nele,
sacou? O meu foco estava em mim!!!! Eu não queria que meu filho fosse
mais calmo, mais sereno por ele, eu queria que ele se aquietasse para eu
cuidar das *minhas* coisas. Para eu ler *meus* e-mails, para eu ler os
*meus* livros.
Então, ampliando o ponto de vista, as coisas estavam dando errado porque
o meu foco estava errado! Eu estava com uma porcaria de um espelho corpo
inteiro na minha frente, e não com o coração do meu filho na minha linha
de objetivos...
Quando eu parei de me focar tanto em mim, nas coisas que eu não
fazia por culpa dele e nos incômodos que ter uma criança agitada me
provocava, eu passei a enxergar meu filho. E enxergando ele, eu consegui
descobrir o óbvio; e descobrindo o óbvio, nós entramos nos eixos.
O meu filho era uma criança desesperada para ter atenção. Mal ele
se distraía, a mãe dele escapolia para algo que fosse menos "cansativo"
que correr atrás dele; e ele, o que fazia? qualquer coisa que me tirasse
de onde eu estava para me devolver para ele, mesmo que fosse algo que me
deixasse brava com ele. Ele preferia me ter chateada do que se ver longe de mim.
Eu me senti tão pequenininha! Eu falava que o amava que o amava,
que ele era minha prioridade, mas eu estava me enganando, porque a minha
prioridade era ter ele silenciado, acomodado para eu poder pousar de boa
mãe sem muito esforço e ter uma vida de mulher sem filhos. E ele...
Caramba... Ele estava lutando desesperadamente por mim! Aquele jeito
excessivamente ativo, compulsivo, incisivo, era a forma que ele sabia
para chamar por mim! Eu era o centro da vidinha dele e tudo que ele
queria era amor e atenção. Não era esse ou aquele brinquedo, não era esse
ou aquele desafio mental. O que meu filho queria era pele, beijo,
contato, intimidade emocional, sentir-se amado e benquisto estivesse ele
dentro, fora ou acima das minhas expectativas.
O que eu fiz? A única coisa que me deixaria bem comigo.. Calcei as
"sandálias da humildade", desci do meu "salto plataforma" de
vítima-da-criança-difícil e fui falar com ele. Ele tinha uns onze meses,
dez, nessa ocasião. Eu nem me importei quanto daquilo ele entenderia. Eu
o abracei e falei tudo que eu sentia, coloquei mesmo meu coração nos pés
dele, nem quis saber. Disse que eu estava sendo uma egoísta, que eu
sentia muito por ter demorado tanto para entender o que ele estava
tentando me dizer, que eu seria diferente dali por diante, que eu
agradecia a paciência dele, mas que eu não tinha conseguido entender ele
antes. Abracei, beijei muito, chorei mais ainda... Disse que o amava
umas quinze vezes naquela noite e tentei mudar, com todas as minhas
forças.
E, " miraculosamente", ele também mudou. O que eu fiz foi
basicamente simples: ficar realmente com ele. Se eu estou com ele
montando uma torre, estou com ele montando uma torre. Meus pensamentos
estão lá. Todos os meus sentidos estão lá. A minha atenção está lá. Eu
não estou pensando no mail que eu quero responder, no livro que eu estou
lendo, no banho que eu não tomei. O meu centro é ele, e eu realmente
quero que ele sinta e veja isso.
Quando nós temos momentos assim - e, acredite, quando a gente se
acostuma, as horas voam - eles ficam "saciados" (ao menos o meu Kevo
fica) e tem o seu "momento de solidão" indispensável para o próprio
desenvolvimento e me deixa fazer as minhas outras coisas.
Eu não conheço nenhuma técnica miraculosa de "treine seu filho a
ficar sozinho" que não seja... Fique com ele integralmente... Estou
falando da atenção integral, não do tempo integral. Se eu fico comn o
Kevo, por exemplo, uma hora, uma hora inteira, com todo meu ser ali, com
ele, toda minha alma presa naquele momento, naquele segundo,
aproveitando, fruindo, me entregando mesmo à infância dele, a cada uma
de suas curiosidades, a cada um dos desafios que ele me oferece, ele
consegue me "esquecer" por uma hora, uma hora e meia depois, até por
duas horas. É quando eu o deixo fazendo qualquer coisa e digo aonde
estarei, e deixo muito claro que ele só precisa me chamar.
Eu te digo honestamente que o meu filho é outra criança desde então.
E eu me sinto, ao mesmo tempo, orgulhosa e envergonhada de relatar isso,
porque, no fim, era tão simples!
Claro que o maior desafio de maternar assim é manter a uniformidade.
Uma coisa é fazer isso quando estamos bem; outra é quando estamos
tensos e estreçados... Hoje mesmo, tivemos uma série ded problemas
e os meus nervos estavam uma maldita pilha!!!! O
Estêvão, obviamente, refletiu o meu estado. Como? Não dormindo e fazendo
tudo, tudo o que me irritava! Racionalmente eu entendia que ele estava
absorvendo meu estado; eu entendi a que era a forma dele perguntar o que
estava acontecendo e xecar se a sua mãe continuava a mesma para ele; eu
entendia que ele só precisava ser acalmado e assegurado de que tudo
estava bem no seu mundo. Eu entendia tudo isso, mas a minha ira *por
outros motivos* estava acima das minhas racionalizações.
Na quarta vez que eu tentei desviá-lo sem sucesso usando todas as
formas que n ormalmente funcionam para ele, eu resolvi a questão.
Coloquei as duas mãos no seu ombro, impedindo-o de se movimentar. Me
abaixei no nível do seu rosto e disse: senta nesse sofá e fica quieto!
Eu não gritei, mas antes eu tivesse gritado. Sabe quando o teu tom
está, realmente, para infundir medo na pessoa? Ele parou, disse um
"teso, senta, sofá, mamãe, pedindo", sentou no sofá e se encolheu... Uma
coisa que ele nunca fazia, sabe? Ele se encolheu no sofá, a cabecinha
entre os joelhos. Eu entendi aquilo como medo. O meu filho estava com
medo da própria mãe!!!!!
Paaaaaara tudo! O que vocÊ está fazendo?
Amor? Não-violência? Nada disso resiste a dois dias ruins?????? Denovo
eu me senti pequenininha perto dele e tive, outra vez mais, que "calçar
as sandálias da humildade". Respirei fundo e o abracei, e ele se
encolheu ainda mais, mas não teve a coragem de sair de perto de mim,
como eu sei que teria gostado de fazer Pedi baixinho que ele me
perdoasse, disse que eu ainda estava aprendendo a ser mãe e que eu
precisava que ele fosse meu amigo hoje e fosse mais bonzinho que de
costume, porque eu não estava em condições de brincar com ele... Aí eu já
estava chorando, envergonhada, anulada por ter deixado ele com medo de
mim. Aí ele disse um "teso, judar, mamãe" e me abraçou e ficou beijando
o meu rosto, as lágrimas e dizendo "mamãe, choando, não".... Ah, meu
Deus....
Ser mãe em tempo integral não
é fácil. VocÊ tem que querer, querer muito, e, no meu caso, ter muita,
muita humildade... E tem que querer muito pra não ficar os dois
estreçados dentro de casa... Você tem que ter tempo - não só tempo
físico, mas tempo mental - para estar só com ele pelo menos em alguns
períodos, e tem que ter a coragem de se inventar e reinventar por amor,
quantas vezes forem necessárias...
Eu te digo honestamente que ser mãe integral para meu filho é mais
desafiante que qualquer coisa que eu tenha feito até então... Mas te
digo mais: é mais reconfortante/pleno/sagrado/delicado que qualquer
coisa que eu tenha vivenciado até então...
Então eu podia dar mil dicas de brincadeiras, livros, sites...
Mas acho que a minha sugestão principal é... Fique com ele... Entre de
cabeça no seu mundinho. Quebre a cabeça para que ele entenda cada
conceito. Brinque com ele de redescobrir o mundo com gosto de primeira
vez. Deixe ele experimentar testuras, odores, sabores, sensações com
vocÊ por perto, ou ao menos esteja amplamente disponível quando ele for
te contar. Olhe-o nos olhos... Muito.... Se coloque no lugar dele.. E se
divirta, pelo amor de Deus!!! Porque esse ,lance todo de ser mãe,
sem uma boa dose de diversão, é de deixar qualquer um louco, mãe e
filho.. Reviva a sua infância partilhando a do seu
filhinho! E não tenha medo de gostar dele e de ser você mesma perto
dele....

Pessoalmente eu acho indispensável uma rotina estruturada para se
ter tudo isso, porque a gente, além de querer ficar com nosso s filhos,
quer tomar banho, ler mail, fazer cocô, as unhas... Então, aos poucos,
eu fui estabelecendo uma rotina, não cronometrada, veja bem, mas
estruturada. Nada muito fixo nem rígido, mas algo que desse algum trilho
aos nossos dias. Essa rotina vai se adaptando na medida em que ele se
desenvolve, mas, para mim, fez muita diferença. Dá para eles segurança
e, para nós, alguma perspectiva de quando, como e onde podemos fazer
nossas coisas. O único ponto que eu ressalto é que não dá para ter um
momento em que a gente literalemnte esquece que tem filho. Se a gente
sai, tem que ser de forma a não quebrar com os horários dele; se vamos a
um divertimento qualquer, temos que fazer de modo a não ser cansativo
para ele... Mas existe vida a dois/individual com maternidade integral
sim.

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