Por baixo

Foi assim, como costuma ser: rápido e inexorável, e eu estava por baixo.
Quase subterrânea, eu diria. Muito bem, pensei: isto é uma prova. Tire
uma boa nota. Entrei em prece. Aja, não reaja, ordenei a mim mesma.
Depois, não transfira. Não é porque você está por baixo, que vai pisar
em quem está em um nível imediatamente inferior ao seu. Não tenha
peninha de si mesma, que nunca resolveu nada e tira energias preciosas
para a rezolução da questão. Agora, aja.
Agi. Fiz o melhor que pude. Tentei não julgar. Não reclamei. Não
quis ter razão, mas também não me submeti.
Houve quem não aprovou - sempre há - mas, confesso, ganhei pontos
para o meu auto-respeito.
E, sobretudo, o mais importante: na hora em que aconteceu, pensei:
você está por baixo. Vamos, sinta o gostinho disso. Prove na língua, nas
reintrâncias da alma, para ser mais benevolente quando estiver por cima
de alguém.
Agora espero muito que esse incidente tenha feito de mim uma pessoa
melhor, não apenas mais resistente à situações adversas, mas, sobretudo,
mais humana, mais gentil e mais empática.