Carta de amor

Meu anjo... Primeiro, quero falar da sua ausência: é um gosto amargo que reconheço bem. É a revisitação de um vazio que, apenas quando te encontrei, soube que existia por sua causa. É como subsistir sem a metade de meus recursos e habilidades: "a luz da luz que irradia em mim é você". Mas sua ausência não dói apenas por mim. Dói não saber de você. Dói não estar perto. Dói não ser ativa. Dói não saber.
Eu sei que, tradicionalmente, palavras de amor te soam vazias. Acontece que não estou tentando te impressionar. Não estou tentando receber nada em troca. Apenas vim para dizer que te amo, como quando se beija alguém dormindo e estamos cientes de que nosso beijo pode nem ser notado e, entretanto, é irrelevante.

Agora, quero falar dos nossos filhos. Quero falar do som de suas respirações. Do cheirinho dos seus corpos, do calor de suas vozes. Quero falar do orgulho deles também serem seus. De ter adentrado o santuário transformador da maternidade sob sua participação diária. Quero dizer que amo aos três, com sentimentos particulares e intransferíveis, mas que, todavia, te amo mais ainda depois deles.
Agora: quero te falar de mim. Crescer e me reformular é absurdamente exigente. EntretantoL a mola propulsora desse processo, também é por você. Quero crescer para que sejamos mais felizes, para que você sinta orgulho de mim e, claro, para ser capaz de dizer que, por vocês, eu não apenas dei tudo que podia, como também me fiz melhor para poder ter ainda mais para dar. Para terminar, não quero dizer que meu amor por você é tão largo quanto a lua, nem tão brilhante quanto as estrelas, mas dizer, apenas, que é maior que eu e que, para tocá-lo e distribui-lo, me ponho na ponta dos pés...

"eu te amo" não diz tudo, mas fala o essencial, e minha vida dirá o resto.